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As Noites das Grandes Fogueiras

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O brasileiro é cordial – e isso já foi dito por gente com PhD em universidades estrangeiras e por algum taxista da Praça XV. Não bastassem os ônibus incendiados e os recordes de mortes por assassinato no País, a história também ensina que há uma diferença entre ser cordial e ter uma vida sempre pacífica. Quando a situação exige, o brasileiro, assim como qualquer outro povo, é capaz cometer verdadeiras de atrocidades.

Os Sertões, de Euclides da Cunha, fala dos “gravatas vermelhas”, que eram as vítimas da degola, hábito que se tornou represália comum aos vencidos na guerra de Canudos. Na Retirada da Laguna, outro livro essencial sobre a história do País, o Visconde de Taunay trata da guerra do Paraguai e fala da tática de queimar a vegetação como forma de “desentocar” adversários.

Mas a Biblioteca All Press dessa semana trata de outra obra. As Noites das Grandes Fogueiras, de Domingos Meirelles, talvez seja o livro definitivo sobre a Coluna Prestes. A partir da revolução paulista de 24, a obra – um catatau de mais de 720 páginas – narra de maneira emocionante a saga do grupo de militares (representantes do chamado tenentismo, ‘nascido’ na revolta do Forte de Copacabana) e agregados que percorreram milhares de quilômetros pelo País, “invadiram” territórios vizinhos fugindo do exército e transformaram Luis Carlos Prestes na figura mítica que viria a receber o nome de “O Cavaleiro da Esperança” dado por Jorge Amado.

O cenário é sempre de guerra e opressão, com a participação de jagunços, militares, coronéis da velha estirpe e todo o peso do Governo jogado contra uns poucos revoltosos. Ameaçado, o Presidente da República Arthur Bernardes, chega ao extremo de usar a aeronáutica contra a população civil. Na página 153 uma passagem histórica:

“Quinze minutos depois a cidade estremece, sacudida por uma sucessão de explosões até então desconhecida. São Paulo está sofrendo, pela primeira vez em sua história, um bombardeio aéreo. As bombas de 60 quilos, lançadas pelos aviões do exército, abrem crateras gigantescas no centro da cidade. Casas, prédios, quarteirões inteiros são transformados em densas nuvens de pó”.

A derrota em São Paulo leva o grupo de amotinados a fugir pelo País. A pé, maltrapilhos, castigados pelo clima e pelos combates, conhecem um país muito diferente e se transformam em símbolos (de selvageria para os governistas, de esperança para quem queria mudanças). Meirelles recupera essa jornada e o clima político no Brasil à época com maestria e detalhes, montando uma história que deve ser lida por todos aqueles que tem interesse nesse episódio ainda mais famoso pelo pitoresco do que conhecido a fundo.

Na Biblioteca All Press você pode emprestar livros sem muita burocracia. Basta enviar um email, consultar a disponibilidade e passar no nosso escritório para pegar o livro.

Sobre o autor:

Rogério Kiefer ( @rogeriokiefer) é jornalista e sócio-diretor da All Press Comunicação.