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O craque Philip Roth

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Philip Roth está aposentado, já passou dos 80 e ainda não recebeu o maior prêmio da literatura mundial. A Academia Sueca que corrija logo esse deslize e evite uma grande injustiça, já que o Nobel não é entregue in memorian.

O norte americano tem uma longa lista de obras que devem ser lidas e que podem aparecer em qualquer estante que reúna os grandes livros das últimas décadas. Patrimônio (autobiográfico, que trata da morte do pai do autor, vítima de um tumor não maligno no cérebro), Nêmesis (declarado como último livro de sua extensa criação), Complexo de Portnoy, O Professor do Desejo, A Marca Humana, Fantasma Sai da Sombra, Adeus Columbus (esse do início da carreira), entre outros, compõem uma galeria de personagens e histórias riquíssima. Há traços em comum entre vários livros da lista: personagens sexualmente desajustados, desalento com relação ao futuro do homem, inadequação do indivíduo aos padrões sociais estabelecidos – tudo em meio a um cenário delimitado e desenhado a partir da matriz da cultura dos judeus que vivem nos Estados Unidos.

O humor é outro ponto forte do autor. Não há piadas ou trechos escritos para arrancar gargalhadas. A graça está na ironia e no ridículo de várias situações. Um dos personagens mais célebres do autor – o perturbado Portnoy, “vítima” de uma mãe judia estereotipada ao máximo – conta ao psiquiatra: “Ela estava tão profundamente entranhada em minha consciência que, no primeiro ano na escola, eu tinha a impressão de que todas as professoras eram minha mãe disfarçada. Assim que tocava o sinal ao final das aulas, eu voltava correndo para casa, na esperança de chegar ao apartamento em que morávamos antes que ela tivesse tempo de se transformar. Invariavelmente ela já estava na cozinha quando eu chegava, preparando leite com biscoitos para mim. No entanto, em vez de me livrar dessas ilusões, essa proeza só fazia crescer minha admiração pelos poderes dela. Além do mais, era sempre um alívio não surpreendê-la entre uma e outra transformação – muito embora eu jamais deixasse de tentar; eu sabia que meu pai e minha irmã nem faziam ideia da natureza real de minha mãe, e o peso da traição que, imaginava eu, recairia sobre meus ombros se alguma vez a pegasse desprevenida seria demais para mim, aos cinco ano de idade.”

Outro personagem célebre de Roth é o escritor Nathan Zuckerman, presente em vários de seus livros. Dois deles estão na Biblioteca All Press. O Avesso da Vida impressiona pela estrutura complexa. Para narrar a trajetória de dois irmãos que se tornam algo como os melhores inimigos um do outro, o autor escreve capítulos com histórias que se contradizem, misturam épocas e cenários e confundem o leitor. Outro – o Fantasma sai de Cena – é perturbador ao revelar de forma direta a decadência – principalmente física, mas também psicológica – que muitas vezes impede que a velhice seja o que os otimistas (ou ingênuos, ou mal intencionados) chamam de “melhor idade”. Apaixonado por uma mulher décadas mais jovem, o escritor sofre não apenas com a impotência sexual, mas também com a incontinência urinária causada pela cirurgia de retirada de um câncer de próstata e com atotal inadequação ao ambiente que o rodeia. Há muito mais a elogiar em Philip Roth. Mas o melhor é ler suas obras e ficar na torcida para que os suecos não percam tempo e entreguem logo ao bom velinho o merecido prêmio.

Na Biblioteca All Press você pode emprestar livros sem muita burocracia. Basta enviar um email, consultar a disponibilidade e passar no nosso escritório para pegar o livro.

Sobre o autor:

Rogério Kiefer ( @rogeriokiefer) é jornalista e sócio-diretor da All Press Comunicação.