Imagine um renomado consultor de crises do Brasil, conselheiro de grandes empresários e governantes, no auge de sua carreira, sendo vítima do maior pavor de seus clientes. Em seu “Entre a Glória e a Vergonha”, de 2017, Mário Rosa, guru de 10 entre 10 consultores de crises, narrou esse momento épico.
“Na alvorada do dia 25 de junho de 2015, o toque insistente da campainha de minha casa, em Brasília, ganhava uma sonoridade estrondosa, contrastando com a quietude do lusco-fusco.
Confesso que meu primeiro pensamento foi o de que algum funcionário tivesse esquecido a chave, mas, enquanto descia a escada, ainda tonto de sono, não entendia o porquê, afinal, de tanta ansiedade. Não fazia ideia mesmo, né?
Abro a porta e do outro lado do portão uma voz imponente anuncia: ‘Senhor Mário Rosa? É a Polícia Federal’”.
O episódio que abalou Mário Rosa trouxe muitos aprendizados. Ele falou sobre eles em entrevista para o Estadão em 2016, quando afirmou que aquele gestor de crises não existia mais. Na obra, publicada inicialmente em capítulos no UOL, o autor compartilha várias dessas lições com seus leitores.
Eu acompanho o trabalho de Mário Rosa há muitos anos. Li todos seus livros, algumas entrevistas e cheguei a fazer um curso em que tive aulas sobre crises de imagem com ele. Sem dúvida, é uma grande referência para todos nós que trabalhamos ou queremos trabalhar e aprender sobre o assunto.
Eu digo que o primeiro aprendizado de todo o episódio que atingiu Rosa foi sem dúvida que ninguém está imune a um ataque à reputação. (Na coluna anterior, falei que as crises dão sinais). O tempo provou a inocência do consultor no escândalo batizado de Operação Acrônimo. Mas as marcas – conta Mário Rosa – foram profundas.
O CONSULTOR VULNERÁVEL
Numa crise você fica vulnerável. No caso do consultor, passar pela mesma experiência de muitos de seus clientes talvez tenha sido transformador.
Rosa em alguns momentos agiu instintivamente, como relata que fez ao conceder uma entrevista, no calor do momento, a uma jornalista, e que teria desaconselhado seus clientes, considerando que numa crise o ideal é não atrair os holofotes para si.
Mas mostrou que não perdeu a mão, ao assumir o controle de sua própria história, primeiro numa série inovadora num dos maiores portais de notícias, e posteriormente neste livro que mencionei acima.
Em quase 500 páginas, Mário Rosa fala sobre os meandros do Poder, explica no que consistia exatamente o seu trabalho – jocosamente definido por um colega como spin doctor -, fala das relações com a imprensa, dos interesses econômicos e políticos por trás de episódios importantes do País. Diz que não acertou sempre, que se arrepende de algumas coisas.
Mas uma das coisas que mais chamam a atenção neste livro é a humanização do consultor de crises, que a cada escândalo vai ficando mais calejado e imune ao sofrimento dos clientes. “A vida realiza, mas também dói. E a frieza das técnicas não alcança todo o espectro. É uma parte do caminho. (…) Hoje, eu lamento ter sido tão direto e cruel tantas vezes com meus assessorados. Eu lamento ter sido inflexível quando deveria ter buscado margens (…). Estamos com certezas demais”.
Para quem também gosta do assunto, a boa notícia é que Mário Rosa será uma das atrações do Compol neste ano!
Por Déborah Almada
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